terça-feira, 22 de junho de 2010

UM ENSAIO SOBRE A CRÍTICA

Roteirista critica a crítica e se pergunta: Por que critcamos?

O que podemos falar da crítica? Como podemos criticá-la?

É sempre muito polêmico analisar os responsáveis pela análise. Primeiro por ser redundante "analisar as análises". Mas começaremos por partes:

Se olharmos sua origem etimológica, encontraremos no grego o significado: "processo de purificação". Ou seja, a crítica como a prática de purificar o outro. Tratando-se de derreter (destruir) o minério bruto e natural, a fim de retirar suas impurezas, para aproveitar somente a parte purificada, para que o minério adquira valor.

É um princípio que assusta. Por qual motivo deveríamos enviar um trabalho artístico para um processo de purificação? Alguns podem até defender a transformação do trabalho artístico em algo acessível para as grandes massas e outros insistirem que a arte não deve ser didática e, por isso, ser sentida até mesmo pela inocência e ignorância. Já me disseram até que o problema nem é a crítica, mas o momento qual o artista deixa de ser um CPF e vira um CNPJ.

Opiniões à parte é necessário observar antes de qualquer coisa, o ponto de vista e o objetivo da crítica. Seja qual for o ponto de vista, ele deve ser comparado com outras críticas para chegar a um conceito, pois como aprendemos na lingüística: "Todo e qualquer indício de comunicação carrega consigo uma mensagem". Logo, devemos comparar as mensagens e filtrar seus significados para definirmos se a crítica nos interessa ou não.

Darei um exemplo: certa vez, fui a uma palestra que falava um pouco do ramo das HQs (História em quadrinhos). Depois de muita discussão sobre a falta de oportunidade aos artistas iniciantes e às produções independentes, um representante de uma grande editora disse: "Os novos desenhistas e roteiristas têm que saber ouvir a voz e as críticas do editor". A experiência no ramo – segundo ele – o faz apto a reconhecer um bom trabalho com bons traços e boas histórias, embora essa mesma editora tenha publicado tantos títulos estrangeiros de baixa qualidade, mas que oferecem um bom retorno financeiro. Finalizando o seu comentário, ele aconselhou: "Vocês devem saber ouvir uma crítica construtiva".

Fiquei muito triste ao ver que a prioridade daquele representante podia ser qualquer coisa menos Arte. Pior ainda é ouvir a pérola: "Crítica construtiva".

A "crítica construtiva" na realidade não existe e mal ultrapassa a condição de paradoxo. Em seus casos mais otimistas evolui suas intenções a um bem elaborado de afeto e apreço denominado conselho. Afinal o que se pode construir enquanto o processo de purificação filtra, mediante a um objetivo pré-definido, todas as informações mais importantes de determinado trabalho artístico?

O processo de interpretação da arte é algo completamente individual, experiência própria. A

crítica pode indicar os caminhos, trazer informações contidas e contar o processo da obra em si. Mas de nada vai adiantar a crítica falar se a química entre espectador e obra de arte não acontecer.

A crítica é responsável pelo bom fluxo de comunicação entre a linguagem do artista e a interpretação do espectador. Seu poder é de sugestão, análise, indicação, divulgação. Autoridade não lhe serve como codinome uma vez que não produz, só consome.

Arte sobrevive sem crítica. E "crítica"? Sobrevive sem arte?

Felipe Hänsell - roteirista e escritor

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E nesta segunda, 28/06 tem Arraial Arte em Andamento na Lapa. Prepare os chapéus de palha!

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