segunda-feira, 7 de junho de 2010

A NATUREZA VIVA DA PALAVRA

Texto de Waly Salomão inspirou a jornalista Cássia Andrade a escrever.

A imaginação, a liberdade de pensamento e o olhar livre sobre as coisas salvam qualquer um da morte. Seja a palavra, seja o caroço. Waly Salomão diria que “um caroço na palma da mão é como uma lâmina laboratorial que se examina”. Um caroço, pura e simplesmente, por essa ótica “positivista”, vai acabar condenando os dois – palavra e caroço – à morte ou a um fim precoce.

O que o poeta nos indica é que não adianta conhecermos profundamente a natureza, a estrutura, a forma do caroço, nem da palavra, se não tivermos um ponto de vista diferenciado, um olhar mais aguçado e mais imaginativo. Talvez ele quisesse dizer que devemos ter equilíbrio no nosso modo de ver as coisas.

Por mais que destrinchemos todos os significados de todos os dicionários das palavras, elas serão apenas palavras com sentidos objetivos e claros. É a nossa imaginação quem fará com que elas se transformem em poemas, metáforas e toda sorte de figuras de linguagem. É a nossa imaginação que permitirá que ela se transforme em contos e histórias e ganhem novos significados e novas vidas a partir do olhar do leitor.

O caroço, quanto mais sugado, mais seco. E quanto mais seco, mais determinado a encerrar a sua história como aquilo que foi embalado pela polpa, que foi saboreada, que foi sorvida, que foi deliciada. Para o Salomão o único adjetivo que adequado o caroço seria “imprestável”, porque dali, por mais cuidado que se tenha e por mais que se utilize todas as ferramentas da agricultura para cultivá-lo dali, dessa maneira, não sairá nada. “Um osso da fruta”.

O mesmo vale para as palavras. Por mais que você conheça seus significados e todas as regras gramaticais, sem imaginação a palavra será morta. Para a poesia, assim como para a prosa é preciso que libertemos nosso olhar, nossa imaginação e nossa palavras, para que o fruto disso tudo possa ser rico, vasto e vivo. E é o poeta, arquiteto das palavras e ligador de sonhos e realidade que nos ensina como fazer.“Quem vem enriquecer esta pobreza positivista do olho é a imaginação, mistura poderosa de experiência, invenção e sonho.”


cassia.ferreira.andrade@gmail.com

inspirado no texto "A Natureza Viva do Caroço" de Waly Salomão no livro Armarinho de Miudezas

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