segunda-feira, 25 de julho de 2011

CENSURA SEM LIMITES


O Brasil tem um histórico interessante de proibições baseadas no “achismo”. Parece fato consumado que as opiniões por aqui realmente se limitem ao “eu acho”, “me disseram que”.  Há pouco mais de uma semana fomos pegos de surpresa pelo poeta Paulo Henrique Britto que afirmava haver somente 300 leitores de poesia. Em 1985, já no chamado período democrático, Godard teve seu filme Je vous salue, Marie proibido por aqui.

A bola da vez é A Serbian Film - Terror Sem Limites. Inicialmente programado para um festival de cinema na Caixa, os distribuidores receberam uma mensagem curta e seca retirando o filme da mostra. A sessão foi transferida para o sábado no Cine Odeon e dessa vez virou caso de justiça.

Segundo Renato Silveira, no site Cinema em Cena, a juíza Katerine Jatahy Nygaard, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Rio de Janeiro, acatou um pedido do diretório regional do partido Democratas (DEM) para que a sessão fosse cancelada, a cópia de A Serbian Film foi recolhida no Odeon. Em seguida, a desembargadora Gilda Maria Dias Carrapatoso, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, manteve o veto à exibição do longa-metragem ao analisar pedido de efeito suspensivo feito pela distribuidora Petrini Filmes.

Essa questão nos levanta uma discussão séria sobre os rumos que a cultura vem tomando. Feito um câncer silencioso, as instâncias da justiça, dos meios de comunicação e do governo vem tomando atitudes que lembram os embargos sofridos no período da ditadura. Foi assim em 1975 que proibiram a exibição da novela Roque Santeiro de Dias Gomes por ferir a moral, os bons costumes e a Igreja. Assim também a Rede Globo pediu aos autores de Insensato Coração que esfriassem as cenas românticas e as discussões políticas no núcleo gay. Assim silenciosamente, vamos nos tornando reféns de uma crença que o público não tem discernimento.

Foi baseado em achismos que no final da década de 90 o filme Fight Club (Clube da Luta) foi retirado precocemente das salas de cinema. O estudante de medicina que entrou num shopping atirando teria assistido ao filme, na verdade, o assassino disparou seus tiros antes da sessão de estréia.

Segundo consta, juíza e desembargadora não assistiram o filme, nem os representantes do DEM que efetuaram o pedido de cancelamento. Aliás, difícil encontrar dentro desses alguém que tenha assistido ao filme que só foi exibido no Brasil no estado do Maranhão e do Rio Grande do Sul em festivais. Querem que limitar a imaginação do artista. Pretendem dizer que a arte necessita de um caminho específico com o qual eles concordem. Alguns amigos assistiram, dizem que há cenas desnecessárias. Mas desnecessárias a quem?

Precisamos entender o que nós, espectadores, também queremos. Então são cenas desnecessárias pra mim, isso significa que antes o cineasta deveria fazer uma pesquisa de opinião para criar sua obra.

Segundo a produção do RioFan, festival do qual A Serbian Film foi retirado, Todas as cenas em questão são obviamente sugeridas e orquestradas por uma montagem que as integra numa narrativa dramática e séria cujo intuito é claramente denunciar a crise moral que se abateu sobre o país [Sérvia] após a sangrenta guerra vivida na década de 1990, momento em que vidas humanas eram descartadas sem o menor pudor.

Trata-se de um filme onde cenas grotescas e extremas tem o intuito de chocar o espectador para fazê-lo refletir sobre as questões. Foi assim em Roda Viva, peça com música de Chico Buarque e também proibida pela censura. Pedaços de fígado de animais eram jogadas no público para fazê-lo acordar para o momento histórico-político do Brasil.

Foucault fala bem desses mecanismos do poder quando afirma que as instâncias do poder passam a estabelecer regras a fim de manter o controle sobre a massa, adestrando as pessoas para que cumpram determinadas normas que acreditam ser as corretas. A melhor maneira de se estabelecer essas regras e mostrar às pessoas que o fazem para garantir sua idoneidade moral e física. É nesse ponto que a arte passa a ser vigiada. E se não nos atentarmos imediatamente para este fato, logo passaremos a acreditar numa utópica idéia de que o mundo está muito bem e obrigado.

A Serbian Film” continua com sua estréia em circuito prevista para o dia 5 de Agosto, até que algum juiz proíba.

Para saber mais: Cinema em Cena.

Por 
Jean Cândido Brasileiro

terça-feira, 19 de julho de 2011

MELODRAMA À FRANCESA

Mostra de Sophie Calle 
inspira espetáculo melodramático

Em 2007 a francesa Sophie Calle lançou a mostra Cuide de Você, baseada num e-mail que recebeu do namorado terminando o relacionamento. Na mostra, mulheres de diversas profissões e até uma periquita foram convidadas a dar sua interpretação à carta.

A mostra que transformou Calle numa das estrelas da Festa Literária Internacional de Paraty em 2008 também inspirou a companhia mineira Trupe de Truões. Em tom de melodrama, gênero que o grupo pesquisa, será apresentado no Rio o espetáculo Calle!. Criação coletiva do grupo com direção de Paulo Merísio, Calle! estará em cartaz neste final de semana no Espaço da Cia. dos Atores na Lapa. 

A trupe vem de Uberlândia e diz sobre a criação do espetáculo: Depois de experimentar de diversas formas o melodrama, dialogando com experiências tradicionais do gênero, a Trupe decide olhar para o presente. Qual foi a experiência mais dolorosa da sua vida? E a mais prazerosa? E o paradoxo das duas experiências em uma só, você já teve? Quando termina uma relação, você adentra o universo melodramático? Como você transformaria isto em arte? Você gosta de trabalhar em grupo? Você já abriu mão de uma idéia em função da coletividade? Você acha os mosaicos bonitos? Estas são as questões que inspiraram Calle! 


A peça aborda a vivência amorosa de três casais. que se desfazem e forma novos pares ao longo do espetáculo. A trajetória de cada romance, por sua vez, é intercalada com 
histórias da escritora homenageada.


Calle!
criação coletiva da Trupe de Truões
Direção: Paulo Merísio
Com: Amanda Aloysa, Getúlio Góis, Juliana Nazar, 
Maria De Maria, Ricardo Oliveira e Ronan Vaz 
Sexta a Domingo: 20h (só este final de semana)
R$ 30,00
Espaço Cia. dos Atores
R. Manoel Carneiro, 10, Santa Teresa

segunda-feira, 18 de julho de 2011

QUEM LÊ POESIA, CLICA AQUI

Os 300 leitores de poesia no Brasil 
se revoltam com Paulo Henriques Britto

No último sábado, o caderno Prosa e Verso do jornal O Globo trouxe em sua capa, matéria de Miguel Conde com o título "Não tem Tradução". O artigo tocou no fato de que a poeta britânica laureada em seu país Carol Ann Duffy foi pouco destacada pela imprensa e nunca foi traduzida no Brasil.

O artigo seria um bom mote para que se discutisse as dificuldades de tradução de poesia no Brasil, mas acabou mesmo foi gerando uma roleta russa que atingiu em cheio muita gente. Caminhando para um descompasso irresponsável, alguns entrevistados deram um verdadeiro show. Mas show de impáfia, prepotência e ignorância.

O poeta Paulo Henriques Brito, por exemplo, disse que no Brasil é realmente difícil encontrar tradução de poesia porque só há 300 leitores do gênero no país. Um editor ainda afirma que encomendar tal empreitada é um erro, já que comercialmente é inviável. Deveríamos perguntar à amiga Thereza Christina Rocque da Motta como ela mantém sua editora há dez anos.

O  jornalista Miguel Conde "esqueceu" de citar em sua matéria outra fala do mesmo poeta Paulo Henriques Brito que perguntado na mesa onde participou ao lado da realmente brilhante Duffy a respeito de saraus, respondeu que tais eventos não servem pra nada, a não ser para vender seus livros. 

Então, confrades, o que o referido poeta disse é que projetos como o Arte em Andamento, Corujão da Poesia, Ponte de Versos, Pólem, Ratos Di Versos, OPA, entre tantos outros menos conhecidos no Rio e de outros estados, são inúteis. 

Paulo Henriques Brito desconsiderou o fato que só Ferreira Gullar vendeu entre 2010/2011 quase 10 mil exemplares de seu último livro. Podem falar que é porque Gullar vende, mas gostaria de perguntar se o referido poeta, que só quer saber de vender seus livros, fez uma pesquisa estatística para chegar ao número de 300. Talvez ele esteja considerando o número de leitores que comprou sua obra. Apenas. 

Nós que realizamos tantos saraus e que vivemos praticamente em função da poesia e da arte como poesia, precisamos discutir o assunto com mais militância. É uma convocação. Fazer arte não é só trabalho, é missão. 

De nossa parte, aqui na Confraria de Arte Brasileira, convidamos o senhor Paulo Henriques Brito a frequentar nossos eventos e dos parceiros também para verificar in loco que só no Rio de Janeiro este número é bem maior. Mas pedimos o favor que não leve seus livros, corremos o risco de ter uma banquinha montada em nossas portas com o nome de Quitanda do Paulo. 

Por Jean Cândido Brasileiro

terça-feira, 12 de julho de 2011

MAIS UM ANO NA OFF-FLIP


A terceira participação do Arte em Andamento na Off-Flip - Circuito Paralelo de Ideias da Festa Literária Internacional de Paraty só confirmou a vocação dos dois projetos em promover a arte independente.

Realizamos saraus de Quinta a Sábado em Paraty e cada dia teve sua particularidade e riqueza. 

Lucas Castelo Branco
O sarau de abertura foi no Restaurante Zaratustra, um lugar super aconchegante no Centro Histórico e que contou com a galera da Poesia Maloquerista, além de amigos como o ator e palhaço Lucas Castelo Branco, a poeta Leila Oli, entre vários artistas de diversos lugares do país.

O segundo dia foi uma grande surpresa até para a Confraria. Diante da impossibilidade de realizar o sarau no Barril Pub em função da festa de Santa Rita, o Clube dos Autores nos convidou para poetizar em sua casa também no Centro Histórico. Foi uma noite muito especial e saímos de lá com o compromisso firmado de transformar o local em abrigo anual do Arte em Andamento.

Jean Cândido Brasileiro
com camiseta do Clube de Autores
O sarau de encerramento do Arte em Andamento na Off-Flip 2011 foi no já tradicional La Luna Restaurante. A noite foi de festa e aconchego na comemoração do aniversário da poeta e parceira Thereza Christina Rocque da Motta. O sarau contou ainda com a presença ilustre de Tavinho Paes.

Nesta mesma noite, a Confraria de Arte Brasileira lançou a pedra fundamental da realização periódica de saraus na cidade de Paraty bimestralmente. Quem quiser, é só chegar!




A poeta Thereza Christina Motta fez aniversário
no Sarau Arte em Andamento

A nova casa do Arte em Andamento está concluindo suas obras. Podemos adiantar que será em Botafogo. Preparem-se confrades!

Veja mais fotos do Arte em Andamento em nossa página no facebook: www.facebook.com/arteemandamento

Siga o Arte em Andamento no twitter: @arteemandamento

sábado, 2 de julho de 2011

ARTE EM ANDAMENTO NA OFF FLIP 2011

clique para aumentar a imagem e veja a programação
Cumprindo sua trajetória, o Arte em Andamento, atualmente em recesso no Rio de Janeiro, retoma suas atividades na programação oficial da Off Flip. 

O Circuito Paralelo de Ideias da Festa Literária Internacional de Paraty recebe o projeto em três locais diferentes para um sarau. 

O primeiro sarau, que será realizado na próxima quinta-feira, será um pocket no Zaratustra Bar. O evento terá a duração de duas horas. Apenas um gostinho para o que virá pela frente.

Na sexta-feira, realizaremos um sarau no Barril Pub Chopperia com duração de um sarau normal e em seguida, depois da meia noite vamos para o Corujão da Poesia na casa do Príncipe Regente.

E no sábado, nosso tradicional encontro para comemorar grandes momentos no La Luna Restaurante. A noite será ainda mais especial porque esta edição será um sarau de aniversário da poeta e editora Thereza Christina Rocque da Motta da Ibis Libris.

Participe conosco!

Siga o Arte em Andamento no Twitter: @arteemandamento