O Brasil tem um histórico interessante de proibições baseadas no “achismo”. Parece fato consumado que as opiniões por aqui realmente se limitem ao “eu acho”, “me disseram que”. Há pouco mais de uma semana fomos pegos de surpresa pelo poeta Paulo Henrique Britto que afirmava haver somente 300 leitores de poesia. Em 1985, já no chamado período democrático, Godard teve seu filme Je vous salue, Marie proibido por aqui.
A bola da vez é A Serbian Film - Terror Sem Limites. Inicialmente programado para um festival de cinema na Caixa, os distribuidores receberam uma mensagem curta e seca retirando o filme da mostra. A sessão foi transferida para o sábado no Cine Odeon e dessa vez virou caso de justiça.
Segundo Renato Silveira, no site Cinema em Cena, a juíza Katerine Jatahy Nygaard, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Rio de Janeiro, acatou um pedido do diretório regional do partido Democratas (DEM) para que a sessão fosse cancelada, a cópia de A Serbian Film foi recolhida no Odeon. Em seguida, a desembargadora Gilda Maria Dias Carrapatoso, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, manteve o veto à exibição do longa-metragem ao analisar pedido de efeito suspensivo feito pela distribuidora Petrini Filmes.

Foi baseado em achismos que no final da década de 90 o filme Fight Club (Clube da Luta) foi retirado precocemente das salas de cinema. O estudante de medicina que entrou num shopping atirando teria assistido ao filme, na verdade, o assassino disparou seus tiros antes da sessão de estréia.
Segundo consta, juíza e desembargadora não assistiram o filme, nem os representantes do DEM que efetuaram o pedido de cancelamento. Aliás, difícil encontrar dentro desses alguém que tenha assistido ao filme que só foi exibido no Brasil no estado do Maranhão e do Rio Grande do Sul em festivais. Querem que limitar a imaginação do artista. Pretendem dizer que a arte necessita de um caminho específico com o qual eles concordem. Alguns amigos assistiram, dizem que há cenas desnecessárias. Mas desnecessárias a quem?
Precisamos entender o que nós, espectadores, também queremos. Então são cenas desnecessárias pra mim, isso significa que antes o cineasta deveria fazer uma pesquisa de opinião para criar sua obra.
Segundo a produção do RioFan, festival do qual A Serbian Film foi retirado, Todas as cenas em questão são obviamente sugeridas e orquestradas por uma montagem que as integra numa narrativa dramática e séria cujo intuito é claramente denunciar a crise moral que se abateu sobre o país [Sérvia] após a sangrenta guerra vivida na década de 1990, momento em que vidas humanas eram descartadas sem o menor pudor.

Foucault fala bem desses mecanismos do poder quando afirma que as instâncias do poder passam a estabelecer regras a fim de manter o controle sobre a massa, adestrando as pessoas para que cumpram determinadas normas que acreditam ser as corretas. A melhor maneira de se estabelecer essas regras e mostrar às pessoas que o fazem para garantir sua idoneidade moral e física. É nesse ponto que a arte passa a ser vigiada. E se não nos atentarmos imediatamente para este fato, logo passaremos a acreditar numa utópica idéia de que o mundo está muito bem e obrigado.
“A Serbian Film” continua com sua estréia em circuito prevista para o dia 5 de Agosto, até que algum juiz proíba.
Para saber mais: Cinema em Cena.
Por
Jean Cândido Brasileiro
Imaginem o que vão fazer com Centopeia Humana - 2.
ResponderExcluirEssa crise de conservadorismo pela qual o mundo passa é sintomática.