sexta-feira, 12 de agosto de 2011

DIA NACIONAL DAS ARTES - UMA REFLEXÃO

O Artista - foto de A. Leitão

Hoje é dia nacional das Artes. Vamos comemorar! Vamos celebrar nossa batalha diária de trabalhar com arte, de fazer nossos pais, namorados e amigos compreenderem que de fato trabalhamos e muito. Mesmo que o dinheiro no final do mês nos obrigue a trabalhar em outras frentes para não morrermos de fome e muito menos dormirmos ao relento. Melodramático demais, não?

O fato é que podemos comemorar sim. Anteontem o governo do Rio lançou seu plano de editais 2011 / 2012 com uma gorda quantia para distribuição em diversas áreas. Até pra quem vive de funk o negócio tá virando. Mas ainda há muito que se fazer. Enquanto damos o prêmio Anta do Ano para Paulo Henriques Britto, o poeta que acredita haver apenas 300 leitores de poesia no Brasil, nos esquecemos que como ele, muitos outros pensam de modo semelhante. 

O que nos leva a pensar mais acerca do público de arte. Ah! O público. O bom e velho problema que ao mesmo tempo é nossa solução. Reclamamos do público fraco, do público que vê apenas as "pecinhas comerciais de stand up ou humor fácil". Feito comadres, passamos a separar o que é e o que não é artístico (neste momento me lembro do famoso texto de Gullar na voz de Antônio Abujamra). 

Levi Van Veluw
Paulo Autran, o grande ator, dizia que gostava de assistir a tudo. Tudo o divertia, tudo era teatro. Me parece que estes atores da velha guarda conseguem se divertir mais do que nós pretensos artistas da nouvelle vague brasileira. Gostamos de arte, gostamos de fazer arte e gostamos mais ainda quando nossos iguais nos reconhecem. E torcemos o nariz para os stand ups da vida, mas de fato, quantos de nós já os assistimos? Enquanto Fernanda Montenegro, Sérgio Britto, Ítalo Rossi e sua companhia dos sete faziam teatro a rodo, nós nos permitimos ficar dois, às vezes três anos, sem montar nada porque entramos na onda do processo. Tudo é processo... E como todo processo, tudo demora...

Há de tudo: peças que só fazemos para festivais, diretores que vivem correndo atrás de editais, atores que só fazem aquilo que lhes apetece. Temos de tudo, sim senhor! Mas hoje em dia precisamos ganhar dinheiro. Mas como vamos ganhar dinheiro se não trabalhamos? E dá-lhe editais. Só queremos trabalhar se o edital sair e garantirmos nosso ano de ensaios e 20 apresentações. Falamos tanto de futebol, mas acho que nosso jogo também tá meio emperrado por falta de paixão.

Nem todo mundo é assim. Não vamos generalizar, mas cabe aqui uma defesa de advogado do diabo, será que não estamos burocratizando demais nossa profissão? Será que as faculdades que frequentamos não estão servindo para construirmos nossos próprios guetos e esquecermos do principal? Afinal, para quem fazemos arte?

Por
Jean Cândido Brasileiro

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