sexta-feira, 26 de agosto de 2011

COMPANHIA DE SEGUROS CANCELA EXPOSIÇÃO COM TEMÁTICA HOMOSSEXUAL EM LISBOA



Uma exposição do artista plástico português João Pedro Vale, com inauguração prevista para 2 de Setembro no Espaço Arte Tranquilidade, em Lisboa, foi cancelada ontem por uma questão de homofobia, adiantou o artista ao jornal português PÚBLICO. A direção de marketing da Tranquilidade comunicou-me hoje por telefone que o projecto no seu todo poderia suscitar polêmica e não era compatível com os valores da empresa, diz João Pedro Vale.

A exposição, intitulada “P-Town”, cuja montagem deveria começar em 31 de Agosto, baseia-se numa coleção de fatos históricos ocorridos na cidade norte-americana de Provincetown, onde João Pedro Vale e o seu parceiro artístico Nuno Alexandre Ferreira estiveram em residência artística. Uma das peças era uma ‘fanzine’ cuja capa mostra um monumento transformado em símbolo fálico; outra, é um conjunto de toalhas de praia com inscrições em ‘stencil’ de frases como: ‘Legalize butt sex’ [“legalizem o sexo anal”] ou ‘AIDS is killing artists, now homophobia is killing art [“a sida está a matar os artistas, a homofobia está a matar a arte”], explica o artista.

Contactado pelo PÚBLICO, Luís Toscano Rico, diretor de marketing da empresa, não negou que a exposição tenha sido cancelada, mas preferiu não fazer comentários. Remeteu esclarecimentos para as galerias com as quais a Tranquilidade tem parcerias.

O Espaço Arte Tranquilidade, gerido pela Companhia de Seguros Tranquilidade, tem um acordo com três galerias de arte de Lisboa, que ficam responsáveis pelas propostas de programação do espaço. Um delas é a Galeria Filomena Soares, que habitualmente representa João Pedro Vale. O diretor da galeria, Manuel Santos, disse que está de férias e não tem conhecimento “de nada”.O problema, aqui, era não só a imagem fálica da ‘fanzine’, que propus que fosse utilizada como ‘banner’ na fachada do espaço e num anúncio pensado para o jornal Expresso, mas também a temática gay do meu trabalho, sublinha o artista. Não me falaram da questão gay, mas disseram que o problema era a temática geral.

Apesar de o cancelamento da exposição ter sido feito por telefone, João Pedro Vale garante que marcou por email uma reunião com o diretor de marketing da Tranquilidade e que essa reunião aconteceu nesta terça-feira. Foi aí que começaram a levantar problemas, relata. Foi-me dito que a exposição poderia ferir a sensibilidade dos ‘stakeholders’ da Tranquilidade, foi essa a palavra utilizada, e pediram-me para deixar as fotografias das peças para que eles reflectissem sobre o assunto. Toda a gente naquela reunião percebeu que se estava a falar de uma situação de lápis azul.

João Pedro Vale, 34 anos, assina várias obras de temática homossexual. Expõe individualmente desde 2000. Nesse ano, apresentou um conjunto de peças intitulado “Don't Ask, Don't Tell, Don't Pursue”, em referência à política das Forças Armadas norte-americanas que proibia os militares homossexuais de revelarem a sua orientação sexual. Em Novembro de 2009, apresentou na sala de cinema pornográfica Paraíso, em Lisboa, o filme “Hero, Captain and Stranger”, com cenas explícitas de sexo entre homens. Em Novembro de 2010 apresentou no Cinema Nimas, em Lisboa, o filme “English As She Spoke”, sobre um emigrante adolescente que descobre a homossexualidade nos EUA.


Fonte: Jornal Público


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