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Segunda-feira, 01 de Junho, a partir de 20:30, é dia do Sarau Arte em Andamento.
Nesta edição teremos a participação musical do cantor Joni Lammas, lançando seu Cd "Sem Fronteiras". Além dele, a tradicional presença do Projeto Psyou sempre recebendo novos músicos que queiram chegar e se apresentar.
O curta-metragem da noite será "Fábrica de Esperança" de Jocemir. O curta conta a história do projeto social fundado em 1996 no bairro de Acari, RJ e completamente extinto com intrigas nunca provadas e a implosão do prédio onde funcionava.
Já o recital poético será em memória da poetisa Adalgisa Nery, falecida em junho de 1980.
Como de praxe, o espaço fica aberto e esperamos todos com alguma contribuição com poemas, textos, música. Vamos fazer juntos uma grande festa das artes!
Adalgisa Nery
Adalgisa nasceu menina pobre e teve uma infância triste. Era filha de um advogado do Rio de Janeiro e ficou órfã de mãe aos 8 anos de idade. Estudou como interna em um colégio de freiras e, naquela época, já era vista como "subversiva" por defender as "órfãs" (categoria comum nos colégios religiosos da época), consideradas subalternas e maltratadas. Por essa razão, acabou sendo expulsa da escola. Portanto, única educação formal que recebeu na vida foi a do curso primário, feito dos 9 aos 12 anos.
Aos 15 anos apaixonou-se por um vizinho, o pintor Ismael Nery, um dos precursores do Modernismo no Brasil, com quem casou aos 16 anos. O casamento durou 12 anos, até a morte do pintor em 1934. A partir do casamento, Adalgisa mergulhou em uma vida trepidante, que lhe proporcionou a entrada em um sofisticado circuito intelectual graças a freqüentes reuniões em sua casa, uma estada de dois anos na Europa com o marido, e a consequente aquisição de cultura. Mas a vida de Adalgisa foi também muito marcada pelo sofrimento e pela relação conflituosa, muitas vezes violenta, com o marido. O casal teve sete filhos, todos homens, mas somente o mais velho, Ivan, e o caçula, Emmanuel sobreviveram.
Em 1959 publicou o romance autobiográfico A Imaginária, que se tornou seu maior sucesso editorial. Adalgisa, usando como alter ego a personagem Berenice, descreveu como o fascínio que sentia pelo marido no início do casamento foi substituído por um verdadeiro sentimento de terror pela violência que ele podia assumir na vida cotidiana.
Viúva aos 29 anos, sem muitos recursos e com dois filhos para criar, Adalgisa foi trabalhar primeiro na Caixa Econômica, mas depois conseguiu arranjar um cargo no Conselho do Comércio Exterior do Itamaraty.
Em 1937 lançou um primeiro livro de poesia, intitulado Poemas. Em 1940 casou-se com o jornalista e advogado Lourival Fontes, que era o diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), criado por Getúlio Vargas, em 1939, para difundir a ideologia do Estado Novo.
Seguiu o marido em funções diplomáticas, em Nova York de 1943 a 1945 e como embaixador no México em 1945. No México desenvolveu amizade com os pintores Diego Rivera, José Orozco (ambos a retrataram), Frida Kahlo, David Siqueiros e Rufino Tamayo. Em 1952, viajou novamente àquele país, como embaixadora plenipotenciária, para representar o Brasil na posse do presidente Adolfo Ruiz Cortines.
O casamento com Lourival durou 13 anos e a separação ocorreu quando ele se apaixonou por outra mulher. Em razão do grande sofrimento, e apesar de seu valor literário ser reconhecido não só no Brasil como na França, Adalgisa resolveu destruir a própria fama e renegar sua obra. A partir daí, tornou-se jornalista, escrevendo para o jornal Última Hora e política. Foi eleita deputada três vezes, primeiro pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e depois, no tempo do bipartidarismo, pelo MDB. Em 1969 teve o mandato e seus direitos políticos cassados.
Pobre e desamparada, sem ter onde morar, após em vida ter doado tudo para os filhos, passou parte dos anos 1974-1975 em uma casa do comunicador Flávio Cavalcanti em Petrópolis, onde viveu como reclusa.
Contrariando seu propósito de nunca mais dedicar-se à literatura, escreveu e publicou ainda dois livros de poesia, dois de contos, um de artigos e um romance, Neblina. O romance foi dedicado a Flávio Cavalcanti, reconhecido como "dedo-duro", em gratidão pelo acolhimento que lhe dera. No conflito entre o que seria "politicamente correto" e a lealdade a um amigo, Adalgisa escolheu, sem hesitar, o caminho do afeto. Em razão disso, o livro foi ignorado pela crítica.
Em maio de 1976, sem ter doença alguma, ela foi internada pelos filhos uma casa de repouso de idosos, em Jacarepaguá. Um ano mais tarde, sofreu um acidente vascular cerebral e ficou afásica e hemiplégica. Três anos mais tarde, Adalgisa faleceu.
A espera
Adalgisa Nery
Amado... Por que tardas tanto?
As primeiras sombras se avizinham
E as estrelas iniciam a noite.
Vem...
Pois a esperança que se acolheu em meu coração
Vai deixá-lo como um ninho abandonado nos penhascos.
Vem... Amado...
desce a tua boca sobre a minha boca
Para a tua alma levar a minha alma
Pesada de sofrimento!
Vem...
Para que, beijando a minha boca
Eu receba a sensação de uma janela aberta.
Amado meu...
Por que tardas tanto?
Vem...
E serás como um ramo de rosas brancas
Pousando no túmulo da minha vida...
Vem amado meu.
Por que tardas tanto?
Adalgisa Nery por Cândido Portinari
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