domingo, 10 de maio de 2009

ITAMARATY CONTRA O BRASIL NA UNESCO

Unesco: Brasil apoia egípcio antissemita: Apesar de dois brasileiros pleitearem a vaga, um deles com muita chance, o Itamaraty apoia o polêmico egípcio Farouk Hosni para a Unesco. Conhecido por posições antissemitas, Hosni tem a oposição de parceiros importantes do Brasil, como EUA e Rússia.

Brasil apoia egípcio polêmico contra brasileiros

Pelo menos Marcio Barbosa teria grande chance de dirigir Unesco, mas Itamaraty faz opção que contraria vários países

BRASÍLIA. Mesmo com dois brasileiros no páreo, o Brasil apoiará oficialmente o egípcio Farouk Hosni para o cargo de diretorgeral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Foram preteridos o diretor-adjunto da Unesco, Marcio Barbosa — com grandes chances de ganhar a eleição, prevista para setembro —, e o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

A opção por Hosni foi confirmada ontem pelo Itamaraty, que, na avaliação de aliados do governo, estaria desagradando não apenas à comunidade científica nacional, mas a parceiros importantes, como EUA, Rússia, México, Argentina, França, Índia e China, que já teriam declarado apoio ao brasileiro Barbosa. Os EUA, recentemente, vetaram o nome do Hosni, devido a seu discurso antissemita. Os franceses, que antes haviam escolhido o egípcio, retiraram seu apoio.

- Sinto-me frustrado — afirmou Barbosa ao GLOBO, por telefone, de Paris.

Barbosa ajudou a levar EUA de volta à Unesco Ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Barbosa conta com mais de 20 votos. Segundo funcionários do governo e parlamentares que acompanham sua trajetória, um de seus méritos foi levar de volta à Unesco, junto com o atual diretor-geral do organismo, o japonês Koichiro Matsuura, os EUA, afastados desde meados da década de 80.

Barbosa e Cristovam foram avisados da decisão pelo próprio chanceler Celso Amorim, semana passada. Um dos argumentos, relatou o senador, foi que o Brasil vem procurando manter boas relações com países árabes. O apoio a Hosni seria fundamental nessa estratégia.

— Minha candidatura só teria chance se contasse com o apoio direto do presidente Lula e do ministro Amorim. Mas o Márcio (Barbosa) fez uma grande campanha no mundo inteiro — afirmou Cristovam.

Para o senador, a direção-geral da Unesco seria natural para o Brasil, graças a experiências como o Bolsa Família e a exploração de alternativas energéticas — caso do etanol. O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Eduardo Azeredo (PSDB-MG), criticou: — Lamento o Itamaraty ter tomado essa decisão. Havia chances reais de o Brasil dirigir um órgão da importância da Unesco. O governo deveria apoiar um dos brasileiros.

Segundo fontes do governo, alguns fatores pesaram na decisão de apoiar Hosni, todos permeados pela necessidade de fortalecer relações com o mundo árabe. Entre eles, a maior participação do Brasil no processo de paz no Oriente Médio e o aval da região à candidatura do país a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Amorim nega interesse em comando de agência nuclear Os mais inconformados dizem que a posição do país tem como foco a possibilidade de se ter um brasileiro, com apoio árabe, na diretoria-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Entre os cogitados estaria o próprio Amorim. O Itamaraty informou, ontem à noite, que apoia a candidatura do sul-africano Abdul Samad Mint para a AIEA.

— Não tenho interesse nesse cargo e, se o presidente Lula assim o quiser, gostaria de ficar no governo até o fim do mandato — disse Celso Amorim.

Correntes do governo e do Congresso tentarão convencer Lula e o Itamaraty a pelo menos não apoiar Hosni. Segundo publicações internacionais, ele teria dito que queimaria os livros em hebraico que encontrasse, quando foi ministro da Cultura de seu país.

A decisão será levada a Paris até o dia 31 deste mês.

'País abdica da oportunidade'

BRASÍLIA. Até então um dos favoritos ao cargo de diretor-geral da Unesco, o brasileiro Marcio Barbosa, diretor-adjunto do organismo, afirmou estar frustrado com a decisão do Itamaraty de apoiar o egípcio Farouk Hosni. Sem revelar quais são, ele disse que alguns países já se ofereceram para apresentar sua candidatura. Mas Barbosa não trabalha com essa possibilidade, por preferir representar o Brasil.

O GLOBO: Como o senhor vê a posição do governo brasileiro?

MARCIO BARBOSA: O Brasil sempre teve uma presença muito importante na Unesco em mais de 60 anos de história do organismo, mas nunca estivemos tão perto de um brasileiro assumir a sua direção. O Brasil é visto como um país que poderia dar uma grande contribuição neste momento.

Qual a sua sensação, ao saber que esse apoio não foi para o senhor?

BARBOSA: É frustrante. O Brasil nunca dirigiu uma organização da ONU, e agora abdica dessa oportunidade. Estou frustrado com a decisão do Itamaraty.

Vários países são simpáticos à sua candidatura. Como eles estão reagindo?

BARBOSA: Tenho sido sondado por alguns países sobre a possibilidade de eu me candidatar em nome deles. Mas não trabalho com essa hipótese.O Brasil tem até o final deste mês para apresentar oficialmente sua posição.

Houve precipitação do país?

BARBOSA: O Brasil se precipitou.

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