quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

EMBALOS DOS POETAS VIVOS

O violão do belga Nimay ficou sem cordas, mas ele tocou assim mesmo.

E foi quente a abertura da temporada 2010 do Arte em Andamento. Além dos mais de 40 graus que fazia no Rio de Janeiro, tivemos de tudo: rock, performance ecopoética e uma extensão até o bar Getúlio, próximo do Art Hostel Rio, onde ficamos madrugada afora comemorando a vida e a arte.

A Confraria recebeu figuras como Nimay, belga que está de passagem pela cidade e que já tocou antes no Sarau e o registro de João Saboia que tratou de colocar tudo no You Tube e que nós tratamos de surrupiar para nossa Web TV. Valeu João!

Recebemos também o violinista Maurício, acompanhado do pandeirista Felipe. Os garotos fizeram uma deliciosa abertura do Sarau dos Poetas Vivos tocando "Trem Mineiro" de Villa Lobos. Rodrigo Gallo também deu o ar da graça e animou o sarau.

Cristina Terra realizou performance ecopoética com "Saga da Amazônia" de Vital Farias, que transcreveremos abaixo. A performance foi completada pelo som de Quiure.



Foi realmente uma noite quente e esperamos que assim seja o ano de 2010 para a Confraria e para o Arte em Andamento.

Mais novidades em breve!

Saga da Amazônia
Vital Farias

Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d'água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
e os rios puxando as águas

Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir
era: fauna, flora, frutos e flores

Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro, prá comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira

Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
prá o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:
se a floresta meu amigo, tivesse pé prá andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá

O que se corta em segundos gasta tempo prá vingar
e o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar?
depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar

Mas o dragão continua a floresta devorar
e quem habita essa mata, prá onde vai se mudar???
corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura

No lugar que havia mata, hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave-de-arribação
Zé de Nata tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão:

Pos mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro
roubou seu lugar

Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez, desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração

Aqui termina essa história para gente de valor
prá gente que tem memória, muita crença, muito amor
prá defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
era uma vez uma floresta na Linha do Equador...



Um comentário:

  1. Olá! Essa postagem deu uma água na boca! Se estivesse no Rio eu estaria aí! Parabéns pelo projeto!

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